terça-feira, 30 de julho de 2013

O mito da “cidade modelo”


por Ademar Lourenço, de Brasília

O Brasil tem várias cidades com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) digno de primeiro mundo. É isto o que supostamente mostra o Altas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, lançado nesta segunda-feira (29) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Na verdade, a pesquisa apresenta uma distorção: as cidades ricas "varrem" a pobreza para cidades pobres vizinhas. Dessa forma, é fácil ter altos índices de desenvolvimento. 

Um caso gritante é Brasília. Enquanto a cidade planejada tem IDHM 0,824 (quanto mais perto de 1 melhor), ficando em 9º lugar, a vizinha Planaltina tem o índice de 0,669, ficando na 2691º posição. Outras vizinhas, como Águas Lindas também amargam índices baixos.

Ou seja, Planaltina é pobre porque é um “bairro” pobre de Brasília, não porque é propriamente uma “cidade pobre”. As pessoas que têm empregos precários e ganham menos vivem nesta e em outras cidades, por isto não são contadas no IDHM de Brasília.  É bom lembrar que dentro de Brasília também existem diferenças enormes entre a região central e as cidades satélites.

Os municípios de alto IDHM, em geral, estão próximos de municípios de baixo ou médio IDHM. É claro que algumas regiões são mais ricas, mas não existe os “municípios de primeiro mundo” que a pesquisa supostamente mostra. Na verdade, a própria noção de “município” deve ser questionada. A economia e a vivência das pessoas hoje existe em um espaço geográfico mais amplo. E a desigualdade social também.

Outros exemplos

O município de maior IDHM é São Caetano do Sul, em São Paulo, com índice de 0,862. O município fica no chamado ABC paulista, que deve ser entendido como uma coisa só. Ribeirão Grande, também no ABC, fica da 562ª posição no ranking, com IDH de 0,749.

Niterói apresenta o 7º melhor IDHM, 0,837. A vizinha Itaboraí amarga a 2105ª posição, com IDHM de 0,693. A também vizinha São Gonçalo, maior cidade da região, fica na 795ª posição, com IDHM de 0,739.

Vitória, capital do Espírito Santo, tem índice de 0,845, ficando em 4º lugar. Do lado da “cidade modelo” está Cariacica, que fica em 1362º lugar, com IDH de 0,718. Ou seja, Vitória é um bairro rico de Cariacica. Ou Cariacica é um bairro pobre de Vitória. 

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