segunda-feira, 15 de julho de 2013

Perdas bilionárias dos trabalhadores com empresas de Eike

ECONOMIA
por Almir Cezar, de Brasília

Eike Batista em uma de suas visitas ao Palácio do Planalto
 (Foto: Agência Brasil, 2010)
O midiático empresário Eike Batista, dono do grupo EBX, que controla diversas empresas de petróleo, mineração, logística, etc, cujas ações vêm derretendo no mercado de capitais, está impondo prejuízos milionários aos investidores que embarcaram em seu marketing, especialmente trabalhadores.

Um dos grandes perdedores é o fundo de pensão dos funcionários dos Correios, que sente o gosto amargo de um déficit de R$ 985 milhões nos últimos dois anos, cuja parcela considerável desse valor é referente à liquefação dos investimentos nas empresas de Eike. Um outro grande financiador de Eike, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem mais de R$ 10,4 bilhões empacados em empréstimos no grupo.

A origem do problema

Eike vendeu a imagem de uma empresa que não correspondia a sua realidade. Colocou em seus quadros executivos tirados a peso de ouro da Petrobras e com isso criou mais despesas para uma companhia que não faturava. Conseguiu financiar megaempreendimentos apenas com lançamento de ações de empresas ainda apenas no papel, compradas com valores altos, em grande parte por fundos de pensão e aposentadorias de funcionários de empresas estatais, e e empréstimos "amigos" junto ao BNDES, com recursos subsidiados do Tesouro Nacional ou do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Por sua vez, seu patrimônio pessoal se valorizou de tal forma, que se tornou um dos homens mais ricos do mundo. E virou símbolo de empresário moderno e ousado necessário ao desenvolvimento nacional, imagem explorada inclusive pelos governos Lula e Dilma.


O patrimônio de Eike começou a derreter quando as empresas começaram a apresentar resultados pífios, como a petroleira OGX que nunca processou uma gota do produto, mas foi apresentada ao mercado como a dona de um mar de petróleo. Com o prolongamento da crise econômica mundial e o baixo crescimento interno, inclusive com uma fuga da bolsa de valores, ao final de junho de 2013, começaram a surgir rumores de que as empresas de Eike não teriam condições de honrar seus compromissos com os credores e teria que renegociar dívidas de curto prazo. Isso gerou temor entre os investidores, embora as empresas negassem. 

A petroleira OGX começou a derreter na Bolsa de Valores após ter anunciado a suspensão de projetos. Bancos reduziram sua expectativa de preço para a ação, chegando a falar em R$ 0,10 por papel, embora estejam em R$ 0,49 aqueles que chegaram a valer mais de R$ 2,50. Agências de risco cortaram a nota de crédito da empresa para níveis pré-calote, e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu investigar se se houve falhas na divulgação de informações sobre as reservas de petróleo da companhia.

Os protestos populares que invadiram as ruas de todo o país podem dificultar um possível socorro do governo às empresas de Eike, segundo artigo do jornal britânico "Financial Times". A tese do jornal é de que, com o povo nas ruas clamando por ética na política, vai ser mais difícil o governo usar o dinheiro dos impostos para socorrer Eike se suas perdas persistirem.

Prejuízo com ações das empresas X atingem fundo Postalis

O mais recente perdedor da praça é o fundo de pensão dos funcionários dos Correios, Postalis, que teve um déficit de R$ 985 milhões nos últimos dois anos. Uma parcela considerável desse valor é referente à liquefação dos investimentos nas empresas de Eike. O rombo da Postalis está sendo assumido pelos próprios funcionários dos Correios que, desde abril, vêm sendo descontados em 3,94% do valor que terão direito na aposentadoria. O Postalis é o 14º maior fundo de pensão do Brasil com um patrimônio de R$ 7,68 bilhões e 130 mil participantes

A posse de ações das empresas de Eike está sendo contabilizada por outros fundos para ajustar a contabilidade aos prejuízos. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se defende com o argumento sobre o momento em que deve agir, que se constitui num critério subjetivo e, portanto, fica ao sabor da conveniência da autarquia. 

BNDES empacou R$ 10,4 bi

Entre os maiores credores do Grupo X, no entanto, figuram o BNDES, com empréstimos de R$ 10,4 bilhões – cujos recursos para financiamentos vêm em grande parte do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).  

Em nota, o Bndes disse que o montante não chegou a ser totalmente desembolsado por causa do calendário de execução dos projetos financiados.“Do volume total contratado, nem tudo foi liberado, já que os desembolsos, de acordo com a praxe em projetos apoiados pelo Bndes, ocorrem ao longo do período de execução dos empreendimentos”, destacou o comunicado, embora não informando o quanto foi liberado. 

A instituição financeira informou também que as participações acionárias nas empresas de Eike Batista representavam apenas 0,6% da carteira da Bndespar, braço do banco que compra ações de empresas, em 31 de março.

O crepúsculo de Eike prossegue

Nos últimos 30 dias, as ações da OGX, caíram 71,9% na Bolsa de Valores de São Paulo. Somente em 03 de julho a queda chegou a 13%. Na véspera, as agências de classificação de risco Moody’s e Standard & Poor’s rebaixaram a nota das ações da OGX para uma avaliação que indica alto risco de calote - risco de a empresa não conseguir honrar os compromissos. As duas agências citaram a baixa produção de petróleo e o fraco fluxo de caixa para justificarem a decisão.

Recentemente, Eike afirmou que seu patrimônio valia cerca de R$ 18 bilhões, o suficiente para cobrir todas as dívidas do grupo. Resta saber os financiamentos serão recuperados ou se mais uma vez vamos assistir a outro calote de empresário ao pagamento de recursos públicos.

A queda dos papéis do Grupo EBX, de Eike Batista, que intensificaram as perdas no fim do dia 12/07 na bolsa de valores. As ações da LLX Logística, OGX Petróleo e MMX Mineração lideraram as perdas do índice, fechando com quedas de 22,35%, 21,82% e 20,95%, respectivamente, R$ 0,66, R$ 0,43 e R$ 1,17.

O noticiário para as empresas do Grupo EBX seguiu agitado, com Eike Batista prestando esclarecimentos sobre a reestruturação de dívida da holding do empresário com a Muba-dala, fundo soberano de Abu Dhabi e os rumores de que a OGX pode ter que devolver campo de Tubarão Azul, caso a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) o considere viável.

Em meio à crise de confiança junto ao mercado, Eike deixou o cargo de presidente e membro do conselho de administração da empresa de energia MPX. O grupo EBX busca reestruturar-se. Isso inclui a venda de ativos ou até do controle da MPX (energia) e da MMX (mineração), as empresas mais saudáveis. Com esses recursos, o grupo deve pagar aos maiores credores. Com a saída do empresário, a MPX deve perder a letra "X" do nome. 

A situação do bilionário virou motivo de piada nas redes sociais. Internautas criaram a hashtag #EikeGenteComoAGente e deram "dicas" para o empresário lidar com uma eventual pobreza. Se tudo der certo, o império do homem que chegou a ser o sétimo mais rico do mundo ficará praticamente reduzido a uma petroleira de médio porte e um porto ainda em construção.

Com informações: BNDES, Jornal do Brasil, Monitor Mercantil, Agência Brasil

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