segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Fim de um mito: Entre 2001-2015 não caiu desigualdade no Brasil

Por Almir Cezar Filho, da Coluna "Economia é Fácil", do programa Censura Livre

Essa semana foi divulgado estudo elaborado pelo pesquisador Marc Morgan de que a concentração de renda aumentou no Brasil no período 2001 a 2015 – praticamente durante a era PT. Por isso mesmo foi divulgado com certo deleite pela mídia corporativa.

Marc Morgan é integrante da Escola de Economia de Paris e fez a pesquisa dentro do marco teórico dos trabalhos de Thomas Piketty, o mesmo do livro O Capital do Século XXI e vários estudos sobre desigualdade social secular no Capitalismo.

Porém, a notícia acabou exprimida com aquelas acerca da suposta recuperação da economia – narrada como uma “milagrosa” ação “bem-sucedida” do governo Temer com seu ajuste fiscal, aprovação de reformas neoliberais no Congresso e privatizações.

Trata de mera propaganda da equipe econômica com respaldo dos conglomerados de mídia. As notícias usam alguns indicadores circunstancialmente favoráveis na Agricultura e nas exportações, a estabilização no desemprego (apesar em um patamar altíssimo) e a queda na inflação, combinada a um otimismo especulativo na bolsa de valores.


Vamos à pesquisa: Os números de Morgan são claros! Se é verdade que a fatia na renda brasileira dos 50% mais pobres passou de 11% para 12% (aumento de 1 ponto percentual, ou quase 10%), alta basicamente puxada pelo aumento do salário mínimo, mais do que por programas tipo Bolsa Família.
O que explica a impressão de queda na desigualdade, reforçada por alguns estudos parciais, e bem propagandeada pelos governos Lula e Dilma e pelos petistas.

Porém, já a parte dos 10% mais ricos também cresceu 1 ponto, de 54% para 55%, o que representa menos de 2% - aí neste grupo não está apenas a nata dos rentistas, mas também a elite dos funcionários públicos, empresários e profissionais liberais em geral.

A descoberta de Morgan é que a estrutura desigual da sociedade brasileira fez com que os 10% mais ricos ficassem com 60,7% do aumento da renda nacional. Os 50% mais pobres levaram 17,6% do aumento da renda.

E aí, sim, vai uma crítica à política do PT, que não enfrentou, com os mecanismos que dispunha – por exemplo, alteração da tributação da renda – a desigualdade. Tanto que o 1% mais rico viu sua parcela na renda nacional passar de 25% para 28%.

Quem perdeu? A classe intermediária, 40% da população, que ficou espremida e viu sua participação na renda nacional cair de 34,4% para 32,4% de 2001 a 2015.

De acordo com o estudo, a queda se deve ao fato de que essa camada da população não se beneficiou diretamente das políticas sociais e trabalhistas dos últimos anos nem pôde tirar proveito dos ganhos de capital (como lucros, dividendos, renda de imóveis e aplicações financeiras), restritos aos mais ricos.

Essa situação - combinada a certos preconceitos históricos brasileiros, como também a identificação de estelionato eleitoral de promessas não cumpridas pelo governo Dilma, inclusive no campo ético - contribuiu para a ruptura de alguns setores da classe média com o petismo, empurrando-os para os “braços” da campanha que culminou no impeachment e prossegue com proposições antipetistas.

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